segunda-feira, 25 de abril de 2011

A beleza da velhice


Depois que li o artigo “A suave subversão da velhice” (edição 188/2001) publicado na revista Época , escrevi o seguinte artigo e o enviei a editora da revista. Na ocasião parte dele foi publicado, entretanto, o sentido do texto se perdeu com os cortes que os editores fazem. Agora lembrei deste texto e posso publicá-lo na integra.

A beleza da velhice

De repente me deparei com o artigo “A suave subversão da velhice” editado pela revista Época. Sua leitura foi algo entre a dor dos relatos, a emoção das histórias e a saudade das minhas próprias lembranças.
Nele Maria Prado, de 101 anos, diz :”Onde você já viu velha bonita? Pode ser triste, conformada ou alegre. Alegre mesmo penso que não tem nenhuma. Há as conformadas e as menos conformadas. Mas bonita nenhuma”. Com essas palavras, Maria Prado deixou clara a ideia que é imposta pelas pessoas jovens à velhice, ou seja, que não existe velhice bonita. Realmente, para muitos que vivem correndo e não param para observá-la com cuidado, a velhice deve ser feia, pois é algo desconhecido e evitado durante a mocidade, mas que um dia, inevitavelmente, chegará para todos. Também deve ser para aqueles que são desvalorizados porque estão velhos e assim, fatalmente se sentem feios. Contudo, creio que a feiúra da velhice não está nela mesma e sim na falta de sensibilidade das pessoas.
As rugas; a pele fina, seca, cheia de manchinhas; a definição de feições mais acentuadas; os cabelos brancos; os movimentos lentos; a voz compassada e docemente trêmula; o olhar doce e molhado de lembranças não são feios se olhados por um prisma diferente. Tais características são próprias de quem muito viveu e por tanto muito aprendeu e muito tem a oferecer. A beleza da velhice não está na ilusão da aparência. Ela ultrapassa essa barreira e se mostra para quem é capaz de permanecer e ouvir a voz da sabedoria, que é dita de forma calma e simples. Quem foge dessa beleza se ilude com a outra, que é passageira, inóspita.
Assim relato a velhice, pois assim a conheci. Parei e ouvi a voz da sabedoria imposta pelo tempo e pude ver a beleza da velhice. Hoje essa voz não vive na terra, mas na minha alma, coração e sempre povoa as minhas lembranças. Ela me guia nos momentos difíceis e espero que um dia eu possa transmiti-la para alguém com a minha voz então trêmula e compassada.
A voz da sabedoria da velhice me foi passada pelas minhas tias avós Bá e Didi (Alba e Edília) com quem vivi e convivi durante a parte mais doce e frutífera de minha vida! E você, já ouviu essa voz?

Waleska Montenegro Moreira Sampaio

Um comentário:

  1. "A feiúra da velhice está na falta de sensibilidade das pessoas."
    Gostei muito desse texto, me faz pensar no desprezo que a sociedade tem com tudo o que pareça substituível. Já não querem mais ler os livros, pois a Internet já traz "tudo"; não querem mais (con)viver com os idosos, acreditam que eles não sabem de mais nada.
    E assim segue a rotina do desprezo, que volta para nós quando não encontramos tempo para coisa alguma, descartamos nossas famílias e amigos, e nos consolamos com um desconhecido em um "chat" virtual.

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