domingo, 21 de novembro de 2010

A moça do jornal

A moça do jornal



O sinal fecha no cruzamento de duas grandes avenidas de nossa querida Fortaleza e ao parar o carro, sempre a vejo com um semblante triste caminhando entre os veículos. Jornal à mostra, andar manso, choroso. É de estatura média, morena, cabelo um pouco grande e sempre preso, mais magra que gorda. Nada fala, apenas caminha. Nunca a vi vender um jornal, mas sempre está lá, sob sol ou chuva. Fica sentada no meio fio esperando o sinal fechar e vagarosamente apresenta o jornal aos vidros fechados dos carros. Séria e com expressão de sofrimento encontro-a e a deixo ao partir no carro.
Já se passaram 5 anos desde que a vi pela primeira vez. Nada mudou, entretanto o tempo deixou-a mais rude, mais gorda e ainda mais intrigante. Sempre teve um olhar triste, como se adivinhasse que a sua vida passaria ali naquele quarteirão. Por quanto tempo ainda a verei ali correndo de um lado para o outro com o jornal na mão. Ela carrega as noticias nas mãos, mas parece não ser noticia para ninguém. Era tão jovem ao começar e agora a chuva e o sol desbotam o seu rosto como uma parede que perde a cor com o passar do tempo.
Então, alguns meses depois, vejo a razão que impulsiona aquela mulher. Agarrada a sua cintura e se equilibrado no meio fio, a menina acompanha a mãe num grude carinhoso e terno de inocência infantil. A pequena deve ter uns oito anos talvez. Sua fisionomia lembra a junventude da mãe em outros tempos e  explica a razão da sua luta. O dia promete chuva, mas a criança parece divertir-se por entre os carros protegida pela mãe. O sinal abre e eu saio deixando agora uma família que vende jornal nas ruas de nossa cidade.

Waleska em 15 / 01 / 05, 21/11/2010 e 11/05/2011

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