domingo, 10 de outubro de 2010

O motorista


O motorista


O velho dobrava a esquina com dificuldade, apoiado por uma velha bengala trêmula. Da parada de ônibus, eu o observava, lento, movendo pé ante pé. Cabeça grisalha baixa, camisa de fazenda branca, calça frouxa marrom, chinelo de couro preto acinzentado. As pessoas passavam por ele apressadas, quase o derrubavam, mas ele não se alterava, continuava em seu ritmo, pé ante pé, lento, com toda a dificuldade e tranqüilidade que o tempo lhe trouxera.
Eram doze horas e o sol estava queimando a calçada. A cabeça do velho brilhava e o vento fazia voar os poucos cabelos brancos que tinha. Contudo, ele pacientemente prosseguia no seu ritmo. Depois de infinitos minutos, ele chegou finalmente à parada.
Vi que ele trazia nas mãos uma receita, e como ali perto ficava um hospital, deduzi que ele vinha de lá. Usava óculos, e só agora eu notara, pois veio todo o trajeto de cabeça baixa e corpo curvado. Sentou-se ao meu lado e observava fixamente os ônibus chegando. Junto com a receita, a carteirinha de passe livre no ônibus.
Depois de vinte minutos com o olhar fixo, levantou-se de forma nervosa e com dificuldade. Eu o ajudei. Foi até a ponta da calçada com o braço estendido, dando sinal para o ônibus que vinha vindo. Não havia mais ninguém na parada, só ele e eu. Mas como aquele não era o meu ônibus, sentei-me depois de o ajudar. Ele continuava dando o sinal para o ônibus que se aproximava rapidamente e passou direto em disparada.
O velho pára de dar o sinal e volta lentamente, calado. Fiquei revoltada e comecei a recriminar o motorista. Ele nada dizia. Depois, quando me calei, ele disse calmamente: “Eu também não parava!”

Waleska 08/09/04

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